Pages

'ENTRE IRMÃS' ABORDA FEMINISMO E HOMOSSEXUALIDADE NA DÉCADA DE 30

Marjorie Estiano, Cyria Coentro e Nanda Costa (Foto: Dan Behr/ Divulgação)


Por Marina Bonini - Quem News

Nos primeiros minutos de Entre Irmãs, de Breno Silveira, é inevitável não se maravilhar com grandiosidade dos cenários, filmados no sertão nordestino, e muito bem retratados pela fotografia de Leo Ferreira. Mas logo quando a história Emília (Marjorie Estiano) e Luzia (Nanda Costa) é apresentada, fica claro que a sororidade, termo que tem sido muito utilizado atualmente para falar sobre a união e aliança entre mulheres, é a melhor palavra para definir o longa, que estreia nesta quinta-feira (12).

O filme conta a história de duas irmãs, a romântica Emília e a realista Luzia, que são criadas por uma tia no sertão do Recife para serem costureiras na década de 30. Após Luzia, uma jovem com uma deficiência física e conformada com seu destino, ser levada por um bando de cangaceiros, liderados por Carcará (Julio Machado), Emília consegue realizar o sonho de sair de sua casa, se casar com um homem da alta sociedade, Degas (Rômulo Estrela), e se mudar para a cidade grande.

Mesmo diante das diferenças e da distância, as duas encontram nos laços que as unem a esperança e a força para seguirem suas vidas. "É uma honra fazer uma mulher protagonista da própria vida e ver que já existiam mulheres que se colocavam daquela forma antigamente, quando a dificuldade era muito mais explícita. Elas seguem as escolhas delas e não são poluídas por impedimentos sociais de seguir aquilo que elas acreditam. Essa é a essência do feminismo", explica Marjorie. "Que bom que tem esse espaço com esse filme para falar dessa liberdade e dessa coragem de poder se permitir a experimentar o que a gente acredita", emenda Nanda.


A sintonia entre as personagens foi um reflexo da amizade que as atrizes fizeram no set. "Admiro muito o trabalho da Marjorie e fiquei feliz quando soube que ela seria a minha irmã. Tive a sorte do filme ser rodado em ordem cronológica que a ajudou muito a criar essa relação. Quando li o roteiro, fiquei muito tocada e emocionada com o amor delas", conta Nanda. "A gente teve um tempo justo de laboratório e aproveitava todo momento para se conectar. Nesse tempinho juntas, nos entregamos muito. A gente ensaiava as leituras com representação. Houve uma abertura das duas e o roteiro e a direção ajudaram muito", relembra Marjorie.

Marjorie Estiano e Letícia Colin (Foto: Divulgação)


Essa união entre as mulheres também é vistana relação entre Emília e Lindalva (Letícia Colin). Com dificuldades para se adaptar ao padrão da alta sociedade e se sentindo solitária em um casamento que não corresponde às suas expectativas, Emília encontra em Lindalva uma nova amiga, que lhe ajuda a descobrir os prazeres da vida, inclusive o sexual.

"A Lindava está tão à frente de seu tempo que está acima dos julgamentos. Além disso, a Marjorie é uma parceira linda e que eu admiro muito", diz Letícia, que se identifica com a personagem. "Sou uma pessoa à frente também, mas são as minhas personagens que me ajudam. A Lindavalva me trouxe um sopro de liberdade e coragem, que me fez muito bem. É uma mulher que eu admiro."

HOMOSSEXUALIDADE

Outro assunto contemporâneo abordado no longa é a homossexualidade e a "cura gay". Na década de 30, métodos como reclusão, remédios e choques eram usados como tratamento "terapêutico" contra a homossexualidade. Degas, personagem de Rômulo Estrela, vive o trauma de não poder assumir sua paixão por outro homem. "O Degas é produto de uma sociedade opressora, que na década de 30 era elevada à décima potência. Foi um prazer fazer esse personagem em um filme feminino. Apesar de sua masculidade, Degas é afetuoso e sensível. Ele busca o amor. O filme fala sobre o respeito ao outro e sobre entender que o outro tema liberdade de ser quem ele é", fala Estrela.

Com todos esses temas, atuações primorosas e um cenário deslumbrante, o longa tem de tudo para agradar e arrancar algumas lágrimas. "Meu cinema é realmente de lágrimas. Adoro que as pessoas se emocionem. Não gosto de comédia e ficção científica. Gosto do que me emociona. A música também ajuda nisso. É uma trilha bonita que ajuda a entender o épico", explica Breno Silveira.

0 comentários: