“Um tem sobrancelha gigante, uma é caipira, outra é anã / Um careca e outro fumante, MTV acaba amanhã”.
É assim que Marcelo Adnet e sua trupe encerram o clipe “Indiretas Já”, uma paródia de “Roda Viva” que distribui farpas mais ou menos veladas entre muitos canais da TV brasileira e até alguns políticos. Nem a própria emissora onde os humoristas são contratados escapou.
O esquete foi ao ar em maio, mas os boatos sobre o fim e/ou a venda da MTV circulam há muito mais tempo. Ontem a “Folha” informou que o canal estaria sendo negociado, o que foi prontamente negado pelo grupo Abril.
Intrigado com a notícia, liguei para a fonte que tenho lá dentro: ninguém menos que Zico Goes, o diretor de programação. Que também vem a ser meu irmão.
Claro que ele também negou. E disse mais: depois de uma queda considerável de audiência em 2010, a MTV vem recuperando espaço. A quê ele atribui isto? A eventos especiais, como o show da Legião Urbana com Wagner Moura ou à cobertura da Olimpíada de Londres. À emergência da “nova classe C”, que trouxe mais consumidores para o Mercado. Ah, e também à música.
Pois é: a MTV está tocando mais música do que há alguns anos, mas isto não é percebido por 11 entre 10 pessoas que reclamam do canal. “Cadê os clipes? Antigamente tinha mais clipes! Eu gostava mais quando passava clipe!”.
É verdade que a internet abalou o modelo da MTV no mundo inteiro. Quem quer ver um clipe hoje em dia corre para os sites de vídeos e o assiste na hora.
A rede simplesmente não pode ancorar sua programação num produto que está facilmente disponível em outra plataforma.
Mas nem é só por isto que o canal há tempos se define não como musical, mas como focado no público jovem. Daí tantos programas de humor e comportamento. A matriz americana seguiu pelo mesmo caminho.
Ainda assim, a música ganhou mais protagonismo recentemente, enfatizando nomes novos como Criolo, Emicida ou Tulipa Ruiz, e deixando o sertanejo universitário e outros horrores para a concorrência.
E a turma do Adnet, fica até quando? O contrato deles expira no final do ano, e depois disso ainda é uma incógnita. É óbvio que eles ganhariam mais exposição numa emissora em VHF. A contrapartida é que teriam muito menos liberdade e sofreriam muito mais pressão por audiência.
Terminei a ligação sem maiores pistas do que vai acontecer. Mas uma constatação é evidente: a MTV que existe hoje não é mais a de cinco anos atrás, e muito menos a que tanto impacto causou nos anos 90. Porque seu público é cambiante. São os jovens, que não permanecem assim por muito tempo. Por esta razão, o canal é comparável às fraldas, que são muito usadas durante um certo período e depois abandonadas.
Isto me faz pensar que há uma motivação secreta nas reclamações dos espectadores, que se queixam da suposta falta de música na MTV e sonham com a volta dos bons velhos tempos. Sabe por que eles não voltam? Porque esses espectadores não são mais adolescentes.
Tony Goes
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