Camila Mello | Redação CORREIO
A vida de Rodrigo Sant'Anna, 30 anos, parece finalmente estar entrando nos trilhos. Depois de mais de dez anos de carreira e passagens pelos programas A Diarista e A Turma do Didi, o ator carioca é o novo destaque do humor nacional, desde que estreou como a “maléfica” transexual Valéria Vasques no quadro Metrô Zorra Brazil, do programa Zorra Total. E passou a ser conhecido em todo o país pelo bordão “Ai, como eu tô bandida!”.
Antes, o rapaz já tinha conseguido chamar atenção, no mesmo humorístico, com a reboladinha cômica de Admilson, o ex-namorado canalha de Lady Kate , papel de Katiúscia Canoro. Em flashback, os dois lembravam da época de vacas magras, quando ela tentava conquistar o coração do cachorrão cantando pagodinhos antigos ao pé do seu ouvido.
Aos 30 anos, Rodrigo Sant'Anna alçou os holofotes com personagens populares
Polêmica
“Esses dois personagens têm tipos muito populares e talvez seja esse o motivo do sucesso. Provoca uma identificação imediata no público. Mas, mesmo assim, fico surpreso com isso tudo. Essa repercussão, nessa proporção, eu não esperava”, confessa o ator, que agora enfrenta polêmica com o sindicato dos metroviários de São Paulo, que acusa o quadro de incentivar o assédio sexual
nos vagões.
A denúncia ganhou apoio até da secretária federal de políticas para mulheres, Iriny Lopes. “Na verdade, meu trabalho é transmitir alegria. E só isso que tenho a dizer”, defende-se Rodrigo, objetivamente.
Ele divide o quadro, o sucesso e a polêmica com a amiga Thalita Carauta, 28 anos, que interpreta Janete, uma mulher que é bolinada no metrô e aconselhada a aproveitar a situação.
Mas, ao que parece, não é isso que vai desviar Rodrigo do sucesso. A Rede Globo já se pronunciou e, em resposta ao sindicato, afirmou que o quadro não incita a violência contra a mulher e, portanto, não pretende retirá-lo do ar. Aliás, Rodrigo e Thalita têm ganhado cada vez mais espaço no programa diante de tanta popularidade.
Dupla Valéria 'Ai como eu tô bandida' e Janete, quadro do Zorra Total
Parceria “A Thalita é uma grande amiga. Nos conhecemos há dez anos e é maravilhoso continuar ao lado dela até hoje, depois de batalharmos tanto. Ela é extremamente talentosa”, elogia o ator, que a conheceu quando ambos faziam curso de teatro no Tablado. Hoje, eles também protagonizam o espetáculo teatral Os Suburbanos, escrita por Rodrigo e sucesso desde que estreou, em 2005.
A comédia fala sobre as dificuldades da vida de quem mora na periferia carioca, como a distância para o centro da cidade, os apertos de quem depende de ônibus e as aventuras em um trem lotado. Foi de lá que o personagem Valéria foi pinçado para a telinha.
“Tivemos que fazer algumas adaptações para televisão. Na peça ela não tinha essa peruca colorida. O bordão já existia, mas era um pouco diferente. Não era ‘bandida’ que eu dizia, mas o que era você também não vai poder publicar”, revela.
Até que um dia, em uma das apresentações, a dupla foi assistida por Maurício Sherman, diretor do Zorra Total, que os convidou para levar os personagens para o programa. Nessa época, Rodrigo já se destacava também no dominical A Turma do Didi, vivendo Dodô, um típico malandro carioca, que logo passou a ser um dos tipos mais hilários do programa.
“O Renato é um mestre e foi muito bom trabalhar com ele, sem dúvidas”, comenta o ator, que ficou no programa durante quatro anos a convite do próprio Renato Aragão.
Favela
Segundo Rodrigo, sua maior inspiração vem da infância pobre. Nascido na favela do Morro dos Macacos, na Zona Norte do Rio de Janeiro, Rodrigo foi criado pela madrinha, porque a mãe tinha que trabalhar e não podia cuidar dele. Aos 18 anos, se mudou para o bairro de Quintino, voltando a morar com os pais.
“Essa realidade me ajudou e agora posso falar da favela com conhecimento de causa e de forma descontraída. A turma do morro é admirável!”, avalia.
Atualmente, Rodrigo mora em um apartamento alugado em Laranjeiras, Zona Sul carioca. E diz ainda se surpreender com o assédio de pessoas de classe média alta, que, até então, não era considerado público alvo do Zorra Total.
Mas, para Rodrigo, surpresa maior foram os elogios de Chico Anysio, seu maior ídolo, e que fez questão de encontrá-lo pessoalmente para lhe cumprimentar. “Estava fugindo dele, de tão tímido que sou. Mas um dia ele foi ao Projac e me encontrou no corredor. Aí ele me elogiou bastante e tentei relaxar um pouco”, conta. Bom, pelo visto, Rodrigo Sant'Anna está no caminho certo.
Opinião, por Hagamenon Brito
O politicamente correto insiste em nos atormentar. O Sindicato dos Metroviários de São Paulo quer que a Globo acabe com o quadro da transexual Valéria (Rodrigo Sant'Anna) e da burrinha Janete (Thalita Carauta), no Zorra Total, sob o argumento de que o mesmo incentiva o assédio sexual nos vagões. E ainda vem a ministra Iriny Lopes, da Secretaria de Políticas para as Mulheres, apoiar esse tipo de censura e tentar seus 15 minutos de fama. Não é eliminando o quadro que o problema - antigo - de assédio sexual nos vagões vai acabar.
Definitivamente, o conceito do politicamente correto - uma praga surgida nos EUA nos anos 70 e que contaminou o mundo - não tem humor e não prima pela inteligência. Tirar a hilária Valéria do ar é violentar o público e o talento de Rodrigo, que criou um personagem à altura dos bons tipos de Chico Anysio, mestre que o jovem ator admira. Podemos discutir se personagens, piadas, textos jornalísticos ou comerciais (como o de Gisele Bündchen de lingerie) são nocivos ou não, mas proibir é demais. É arbitrário, é ditatorial.
0 comentários:
Postar um comentário