Ronaldo Magella - NOSSOS VALORES FORAM CAPITALIZADOS
Estamos todos à venda, somos um produto, eis a conclusão do sociólogo Bauman, estamos todos numa grande vitrine e queremos que alguém nos compre nos leve pra casa, nos use. Tudo tem um preço em nossa vida, a felicidade, o amor, o sexo, a paz, a vida, estamos todos correndo atrás de negócios, de dinheiro, de conquistar fama e poder, ter e saber, ter para poder, saber para ter, tudo para ser alguém que tem e pode e vivemos nessa ânsia, nessa angustia louca para consagrar-se pelo dinheiro, dentro desse grande balcão que chamamos de vida.
Quer você aceite ou não, tudo começou um dia quando alguém tentou vender a amizade, sim, amizade se compra. O livro “Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas” foi lançado em 1937 pelo escritor americano Dale Carnegie, ali se deu início, penso, a capitalização dos valores nossos, dos afetos, da nossa vida. Pode ter sito antes, mas vamos firmar a data e o livro, fazendo assim um recorte, como um marco para as nossas reflexões.
Logo, depois passamos a monetarizar e capitalizar a vida, os afetos, os valores. Tudo hoje tem um preço, amor, sexo, felicidade, paz, prazer, desejo, educação, saúde, a vida é paga. Nunca tão fácil, simples e barato amar, e descomplicado, tornando as coisas superficiais demais, ou será nós quem complicamos as coisas?
Vejamos, o amor, entre em qualquer site de relacionamento, lá estará, encontre aqui o amor da sua vida por três de 19, 90 divido no cartão, sem juros (que bom, é sem juros); compre o livro, os 100 segredos das pessoas felizes; ou, 100 maneiras de enlouquecer alguém na cama, por 9,90 apenas, quase de graça, ou seja, ser feliz é barato, muito barato mesmo.
E nem preciso falar da religião. Hoje todo mundo paga para conquistar as coisas do céu, a fé é paga, a crença não se manifesta e nem as obras e graças se realizam pelo desejo do criador, mas por aquele que puder contribuir mais. Fazemos tudo ao contrário do que Jesus nos legou, vai, doa tudo aos pobres e me segue, fazemos o contrário, não doamos e nem seguimos, apenas vivemos para conquistar mais e mais.
As empresas não vende mais produtos, mas sonhos, desejos, vontades, formas de viver a vida, como se comprando um carro em 40 prestações, pagando quase o dobro do carro, e com todos os aumentos de gasolina, os gastos com revisões e outras coisas, o caos no trânsito, nosso sonhos estivesse mesmo sendo ali realizado e nossa vida plenificada. É reduzir a vida.
O que o Bauman nos sugere, em seu livro, Vidas para consumo, refere-se ao nosso currículo, lá estamos nós amontoando títulos, fazendo cursos, capacitando-nos, tudo para quem alguém nos compre, nos alugue por um salário, nos faça viver com o dinheiro que irá nos entregar. Nossos currículos são nossas vitrines, assim como nossos perfis em nossas redes digitais sociais, quando exaramos nossas qualidades para que alguém nos adicione ou nos siga, nos compre a amizade, nos queira, junte-se a nós, seja nosso contato amigo.
Nossa existência segue as regras ditadas pelo capital, pelo dinheiro, pelo ter, pelo poder. Matamos por dinheiro, amamos por interesses, gostamos alguém pelo que ele pode nos oferecer e não pelo que é. Só há um pequeno problema.
Se o modelo que vivemos hoje fosse o melhor, perfeito, não haveria no mundo tanta violência, dor, preconceito, depressão, é preciso pensar. Precisamos rever nossos conceitos e pensar melhor nossas escolhas, nossos caminhos, pois o nosso futuro dependerá do nosso presente.
Ronaldo Magella
Jornalista e Professor - Blog - www.ronaldo.magella.zip.net
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