Pages

Ronaldo Magella - DE QUEM É A CULPA PELO RIO?

Quinta-feira, sete de abril, dia do jornalista ou do jornalismo, pouco importa, jovem, rapaz, homem, segundo dizem, 24 anos, chamado de Wellington Menezes de Oliveira, invade escola em Realengo, no Rio de Janeiro, e, armado, dispara contra alunos, mata onze e mata-se, segundo as informações divulgadas. E o Rio continuará lindo.


Mais uma tragédia, no Rio, no Brasil, no Mundo, e mais uma vez, os jornalistas, o jornalismo, o governo, as pessoas, a mídia, o povo começa a procurar culpados para tal ato. No Twitter diziam ser um mostro, um bárbaro, um demônio, o povo, a gente, nós, sempre encontramos adjetivos para culpar os outros, mas nunca para assumir os nosso erros e responsabilidades.

Uma autoridade do Estado do Rio de Janeiro tentou vender a ideia de que o rapaz teria problemas mentais, é engraçado que só se percebeu isso 24 anos depois e só agora quando ele mata 11 crianças, seres humanos, pois conseguiu entrar na escola como ex-aluno e palestrante, até ali naquele momento ele não tinha problemas mentais, mas depois da violência praticada, agora sim, é, era um doente. As pessoas são normais e perfeitas até errarem.

Aliás, já escrevi sobre isso, acertar é um dever, ninguém percebe, agradece ou elogia, é um silêncio ensurdecedor, agora, errar é provocar a ira alheia, é perder a áurea do anonimato, é se colocar na linha de frente e esperar que a morte chegue pelas críticas desferidas. Nunca há compreensão pelos erros dos outros, mas sempre esperamos que alguém entenda a nossa condição de humano e falível, imperfeito.

Outras especulações diziam que o rapaz estaria ligado a facções fundamentalistas, seria um fanático religioso, ou mais ainda, um doente terminal, com AIDS, um soldado do Rio disse que ele teria desvio de personalidade, como sempre, a culpa cairá sobre os ombros de quem comete o crime e não será dividida com aqueles que facilitam com que o crime seja comedido.

Ninguém se questiona o seguinte, se houve mortes, se alguém mata outro alguém com uma arma de fogo, fica a nossa pergunta, quais as causas da violência? Penso, e aqui arrisco culpar a sociedade pela miséria humana, ou seja, nós somos culpados por toda dor que nos afeta e nos atinge. Fomos nós quem inventamos as armas de fogo, nucleares, fomos nós quem criamos objetos plásticos, poluição, desigualdade social, mas quando o Planeta sofre, quando há perigo de contaminação por lixo radiativo, quando alguém morre, ninguém ou nenhum de nós que levantar a cabeça, estufar o peito e dizer, somos responsáveis.

Somos responsáveis por brincar nossos carnavais e nossas festas e por ter nossa educação e nossa saúde em situações precárias, somos responsáveis pela violência, pois enquanto uns ganham milhões muitos de nós sofremos com empregos indignos, salários miseráveis, mas nos achamos no direito de tomar a nossa cerveja, comprar as nossas coisas e curtir a nossa vida, pois construímos a nossa a vida e temos o direito e o prazer de gozar e usufruir. Os outros, bem, os outros, que se virem.

A sociedade não percebe o quão é imatura e infantil, dizem de bocas cheias e com os dentes amostra, que a educação é tudo, que é preciso ter saúde, moradia e segurança, mas é essa mesma sociedade que lota estádios de futebol, que acha normal um jogador ganhar milhões enquanto um professor não chega a ganhar dois mil reais.

É a mesma sociedade que se preocupa com pessoas, chamadas heróicas, confinadas numa casa para curtir festas, brincar de viver, tudo para ganhar um milhão e meio de reais, mas não se preocupa com crianças confinadas em escolas, orfanatos, com velhos em asilos, com pessoas carentes em hospitais, com pessoas que vivem pelas ruas, porque gostamos do glamour da vida e não da miséria, gostamos de pessoas importantes, ricas, bonitas, famosas, mas pouco damos atenção aos que sofrem, pois não queremos carregar a culpa e a dor dos outros, pois já temos as nossas.

É a mesma sociedade que exibe seus carros luxuosos, seu celulares multifuncionais, que torce pela seleção, que vibra com as novelas, que vive da moda, do turismo, que aplaude os programas de humor, que rir no domingo com o grotesco da vida, mas que pouco se importa com quem sofre mais do que ela, pelo menos se não estiver próximo, muito próximo. É essa nossa mesma sociedade que diz chorar, pede orações, se diz triste e chocada com as tragédias que consome ávida pela televisão, mas que esquece o outro, que tem memória curta e que logo mais, quando outra acontecer, esquecerá a que passou e voltará novamente seus olhos lacrimejantes para o novo sucesso do jornalismo.

Mas o Rio continuará lindo, vem chegando aí a Copa do Mundo, as Olimpíadas, haverá outros carnavais, vamos esquecer o que passou, aliás, já esquecemos, todo dia esquecemos, pois no Brasil morrem mais de 200 pessoas por dia e nunca nos mostramos tão chocados, ah, claro, é que é essa a primeira vez que isso acontece por aqui, vamos com calma, como disse um jornalista, é, acho que devemos esperar outros massacres.



Viva o Rio e a nós mesmos....


Ronaldo Magella


Jornalista e Professor - Blog - http://www.ronaldo.magella.zip.net/

0 comentários: