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Entrevista com Reinaldo Boury, novo contratado para dirigir a nova novela do Tiago Santiago



Ele é um dos maiores diretores de TV do Brasil, com mais de 50 anos de carreira Reynaldo Boury conta nessa entrevista como foi dirigir tantas novelas de sucesso, como é o trabalho de um diretor, e muitas outras coisas da história de sucesso da nossa tão querida e amada televisão.

Jéfferson Balbino: Como foi o inicio da sua vida profissional? É verdade que o senhor começou como cameraman?

Reynaldo Boury: Faz tempo. Tirava fotos dos atores que estavam em cena, durante o Grande Teatro Tupy e TV de Vanguarda. Era a única maneira de verem como estiveram em cena, pois era tudo ao vivo. Fui convidado pelo Diretor Geral da TV Tupy, o Cassiano Gabus Mendes a ser cameraman. Aceitei na hora. Era 24 de agosto de 1954.

Jéfferson Balbino: Quais foram as principais dificuldades que o senhor enfrentou ao dirigir a maior novela da televisão brasileira, Redenção (que teve 596 capítulos)?

Reynaldo Boury: Praticamente nenhuma dificuldade. Foram dois anos de um trabalho muito produtivo.

Jéfferson Balbino: Porque Redenção foi tão longa? E nunca pensaram em fazer um remake dessa clássica telenovela?

Reynaldo Boury: A Lintas, Agência de Publicidade patrocinadora da novela, devido ao sucesso, foi ‘esticando’ a novela mantendo a cidade Redenção, como pano de fundo, trocando as personagens, as famílias. Só a personagem do Francisco Cuoco, o Dr. Fernando, atuou-nos 596 capítulos. A TV Globo chegou a pensar em um remake, mas não vingou.

Jéfferson Balbino: Com base em sua vasta experiência profissional, o que tinha na TV de antigamente, que falta na atual fase da televisão brasileira?

Reynaldo Boury: Antigamente era muito artesanal. Mas todos os problemas eram superados pelo valor profissional. Dedicação. Está faltando.

Jéfferson Balbino: O senhor acha que as novelas influenciam no comportamento dos brasileiros?

Reynaldo Boury: Com certeza. A ‘janelinha’ dita costumes, modas, comportamento social.

Jéfferson Balbino: Como funciona o relacionamento entre o autor com o diretor numa novela?

Reynaldo Boury
: Quando o Autor escreve e o Diretor dirige, tudo corre as mil maravilhas. Do contrário os problemas surgem, às vezes sem solução.

Jéfferson Balbino: Qual foi à cena mais difícil que o senhor já dirigiu?

Reynaldo Boury: Todas as cenas são importantes. Não existe a cena mais difícil.

Jéfferson Balbino: Explica pra gente como o senhor lidava com a censura nas novelas? A censura também afetava a direção ou somente a autoria de uma novela?
Reynaldo Boury: Era uma fase complicada. Os capítulos depois de prontos eram enviados a Brasilia para serem observados pelos profissionais da Censura Federal. Quando os cortes aconteciam, a ordem tinha que ser executada. Afetava tanto a Direção como o Autor. Muitas vezes a trama tinha que ser alterada, com grande prejuízo da obra.

Jéfferson Balbino: O senhor já se arriscou em lançar algum ator ou atriz que não tinha talento?

Reynaldo Boury: Nunca. O talento sempre em primeiro lugar.

Jéfferson Balbino: E como o senhor administrava o ego dos atores?

Reynaldo Boury: O ator é um ser humano, sempre com ‘altos e baixos’ na maneira de agir. Portanto a cada um, tratamento especial, de acordo com o seu ego.

Jéfferson Balbino: Já teve algum atrito com algum autor ou ator/atriz?

Reynaldo Boury: Alguns. Mas prefiro não citar nomes.

Jéfferson Balbino: Para o senhor o que garante o sucesso de uma novela?

Reynaldo Boury: Vou usar as sábias palavras do Boni:”Para ser sucesso a novela tem que ter 80% de uma boa história e texto”.

Jéfferson Balbino: Cabe ao diretor a escolha do elenco de uma novela? O senhor tinha algum ator ou atriz preferido que sempre escalava?

Reynaldo Boury: Antigamente, o elenco era formado pelo Diretor e Autor, sempre com a avaliação do Boni. Não existia a preferência por este ou aquele ator ou atriz. Hoje, tudo é diferente. E eu, como quase todos, prefiro trabalhar com quem tem talento.

Jéfferson Balbino: O senhor dirigiu muitas novelas em preto-e-branco. Como foi o impacto da chegada da cor na televisão?

Reynaldo Boury: A TV a cores mudou completamente o visual da Tv. Cenários, figurinos, maquiagem, iluminação. Foi uma nova era.

Jéfferson Balbino: A Margareth me contou que foi o senhor que apostou nela como escritora. Como o senhor percebeu que ela tinha talento para se tornar uma escritora?

Reynaldo Boury: Quando ela cursava a Gama Filho, escrevia contos para passar o tempo. Para escrever para televisão precisava só um empurrãozinho, o que ela conta na entrevista é a pura verdade.

Jéfferson Balbino: A Margareth trabalhou em várias novelas, que o senhor dirigiu, como atriz. Como o senhor avalia o talento dela na arte de atuar?

Reynaldo Boury: Redenção, quando ela tinha 9 anos, foi a única novela que atuou sob a minha Direção. Depois, na Globo, em alguns Caso Verdade. Nunca comprometeu, mas prefiro ela como autora.

Jéfferson Balbino: O senhor trabalhou com grandes nomes da telenovela brasileira. Conte-nos como foi trabalhar com os mestres da teledramaturgia como: Dias Gomes, Janete Clair, Cassiano Gabus Mendes?

Reynaldo Boury: Sempre foi muito agradável, pois eles eram ou autores das novelas. Escreviam. E eu, dirigia. Era fácil.

Jéfferson Balbino: O senhor dirigiu o programa Caso Verdade. Como o senhor avalia o formato desse tipo de programa, que infelizmente não existe mais na televisão?


Reynaldo Boury: Foi uma excelente época. Bons atores e autores foram revelados. O formato nos permitia arriscar. Muitos deram certo. Outros, nem tanto.


Jéfferson Balbino: O remake de Irmãos Coragem (exibido em 1995) teve alguns problemas na direção que era do diretor Luiz Fernando Carvalho e em seguida passou para o senhor que deu narrativa mais acelerada. O senhor teve problemas em começar a dirigir a novela a partir do capítulo 80? Em sua opinião o que faltou no remake pra não ter repetido o estrondoso sucesso da primeira versão?


Reynaldo Boury: Foi a partir do capitulo 36 e não do 80. O maior erro foi colocar Irmãos Coragem às 18 horas. O Luis Fernando Carvalho estava dando um ritmo de novela das 21 horas. Entrei, pois estava acostumado a realizar novelas das 18. Foi uma opção da empresa.

Jéfferson Balbino: E como foi trabalhar com o saudoso Paulo Ubiratan que ocupava a direção artística de Irmãos Coragem?


Reynaldo Boury: O Paulo Ubiratan era tudo de bom. Não foi só em Irmãos Coragem que a Direção Artística era dele. Trabalhei com ele em várias novelas. Sempre fomos muito ‘afinados’.


Jéfferson Balbino: O senhor com seu filho (o diretor Alexandre Boury) dirigiram o filme Didi quer ser Criança. Como é dirigir no cinema, é a mesma coisa de dirigir pra TV?


Reynaldo Boury: Foi uma experiência um pouco tardia. Nunca tive oportunidade para dirigir filmes. Gostei. O filme foi rodado com duas cameras HD.

Foi mais ou menos como fazer televisão


Jéfferson Balbino: A novela Sonho Meu foi um sucesso de audiência, e segundo informações veiculadas na internet, a novela teve cotada várias vezes de ser reprisada na sessão Vale a Pena Ver de Novo. Isso é verdade? A galera aqui do Blog é fã da sessão de reprises da Globo. O senhor sabe qual é o critério usado pela Rede Globo para reprisar novelas, já que tantos sucessos antigos nunca voltaram na sessão?

Reynaldo Boury: Nunca fiquei sabendo que seria reprisada no Vale a Pena Ver de Novo. Mas dificilmente será. Na minha opinião, a Globosat deveria abrir um canal fechado só para reprisar novelas.


Jéfferson Balbino: Das novelas que o senhor dirigiu qual o senhor considera a melhor?


Reynaldo Boury:Tieta. Disparada a melhor.


Jéfferson Balbino: E das que assistiu?


Reynaldo Boury: Roque Santeiro.


Jéfferson Balbino: E o Alexandre, foi o senhor que descobriu o talento dele para dirigir?


Reynaldo Boury: O Alexandre entrou na televisão como operador de video tape. Depois foi Editor de novelas. Ele dirigiu algumas cenas em Sonho Meu e depois o Jorge Fernando o convidou para dirigir novelas.

Jéfferson Balbino: O senhor co-dirigiu um dos maiores fenômenos de audiência na história da teledramaturgia brasileira, que foi a primeira-versão da novela Selva de Pedra, que conseguiu 100 pontos de audiência, em meio a tanto sucesso que o senhor já viveu nunca o sucesso lhe subiu a cabeça?


Reynaldo Boury: Nunca. Assim como Selva de Pedra foi sucesso, também dirigi algumas novelas que não foram tão bem aceitas pelo público.



Jéfferson Balbino: Muito diretores como Wolf Maya, Marcos Paulo e até mesmo o saudoso Herval Rossano já atuou em novelas, o senhor nunca se interessou em atuar?


Reynaldo Boury: Seria um grande canastrão como ator.


Jéfferson Balbino: Como foi dirigir a novela Minha Terra Minha Mãe, escrita por sua filha, e produzida na Angola?


Reynaldo Boury: A novela Angolana foi um sucesso lá em Angola. Muito bem escrita pela Margareth. É aí que entra a famosa fala do Boni com relação ao sucesso de uma novela. Minha Terra Minha Mãe, foi produzida e gravada no Rio de Janeiro. “Importamos” 23 atores angolanos que por 6 meses ficaram no Brasil.


Jéfferson Balbino: O senhor chegou a dirigir o seriado Malhação, como foi para o senhor trabalhar com jovens atores nesse conceito moderno de teledramaturgia?


Reynaldo Boury: Malhação é um grande teste para revelar atores, como foi o Caso Verdade. Muitos atores foram revelados e com certeza, outros virão.


Jéfferson Balbino: Para finalizar, gostaria que o senhor falasse pra nós como o senhor vê participantes de reality-show (como minha conterrânea Grazzi Massafera), entrar para o mercado televisivo com pouquíssima experiência profissional. O senhor que é um conceituado diretor de televisão condena esse tipo de fama?


Reynaldo Boury: Não posso condenar a Grazzi Massafera por entrar para as novelas. Ela tem talento. Agora é só aperfeiçoar.


Jéfferson Balbino: Sr. Reynaldo muito obrigado por conceder essa entrevista para o NO MUNDO DOS FAMOSOS, fico muito feliz de ter um conceituado diretor como o senhor no meu humilde blog, parabéns pela sua carreira de sucesso e muitas felicidades!


Reynaldo Boury: Agradeço a oportunidade de poder dividir as minhas opiniões e conceitos sobre a televisão brasileira. Muito obrigado

1 comentários:

igor disse...

como faco para fazerr parte da sua novela