Longa é adaptação de livro infantil de Maurice Sendak.
Amauri Stamboroski Jr.
Do G1, em São Paulo
Max é um garoto confuso. Do alto de seus nove anos de idade, não consegue lidar muito bem com a sua própria raiva. Depois de ficar bravo com a mãe que leva um namorado para casa, ele veste a fantasia de lobo com a qual costuma perseguir o cachorro da família e arranja uma confusão: chega a morder a mãe e foge de casa logo em seguida. No meio do mato, encontra um barco e sai para navegar, chegando a uma ilha estranha, cheia de monstros assustadores.
O enredo de “Onde vivem os monstros”, que estreia no Brasil nesta sexta-feira (15), pode não parecer o mais elaborado possível, mas o charme do filme não está especificamente na história que ele conta. Baseado no livro infantil homônimo de Maurice Sendak – cultuado nos EUA e desconhecido no Brasil – o longa é belo e delicado como as ilustrações que fizeram a fama da sua contraparte impressa.
Com apenas nove sentenças no total, o livro sempre foi tido como “inadaptável” para o formato de longa-metragem – seu histórico inclui uma tentativa frustrada de virar desenho animado pela Disney na década de 1980. O grande mérito do diretor Spike Jonze (ao lado do escritor e co-roteirista Dave Eggers) é respeitar profundamente o material original e preencher as lacunas com imaginação.
Personalidades
Jonze procura expandir a trama, dando nomes e personalidades aos monstros, da mesma forma que o próprio Sendak (que produz e supervisiona o filme) havia feito com o libreto versão operística do livro. Assim nascem o calado e distante Bernard, a amável e provocativa KW, a irritante e pessimista Judith e o único personagem que concorre em atenção com o próprio Max na tela, o carismático e impulsivo Carol.
Apesar de ser uma fábula, “Onde vivem os monstros” não é fácil e nem bobo - em alguns momentos de descontrole dos monstros, chega a ser assustador. Max Records (o ator principal, hoje com 12 anos, é homônimo do personagem) embarca em uma montanha-russa de sentimentos, e consegue comunicar cada um deles com poucas palavras, olhares certeiros e silêncios expressivos.
Os aspectos técnicos contribuem muito também para o sucesso do filme. Em nenhum momento o espectador para para se questionar a respeito da verossimilhança das criaturas que vê na tela – elas parecem tão naturais quanto o cenário, e não bonecos animados com toques de computação gráfica. Essa capacidade de ilusão, ao lado de uma fotografia magistral, faz o espectador mergulhar na psiquê de Max e se perder na fantasia da terra selvagem.
Trilha sonora
Complementando o arrebatamento visual, a trilha sonora assinada por Karen O (do Yeah Yeah Yeahs) ajuda a absorver melhor os estados emocionais do filme. Assim como os personagens de Sendak, cada faixa representa um sentimento, da anárquica “Rumpus” à melancólica “Worried shoes”, bela versão de uma das composições mais tristes de Daniel Johnston.
“Onde vivem os monstros” não se enquadra bem no chavão de que “é um filme para adultos e crianças”. Na verdade, ao apoiar toda a narrativa na perspectiva de Max e seus sentimentos conflitantes, Jonze faz com que os espectadores adultos regridam até os seus nove anos de idade – se preferir, o clichê neste caso é de que se trata de um filme que “vai fazer você se sentir como criança novamente”. Deixe o selvagem dentro de você aflorar e participe da bagunça.
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